sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O costu(me)

Era como se o tempo te admirasse por ser tão forte, não sendo. É de costume. Estar sentindo o cinza que queima o verde em suas grandes tonalidades. Em um matagal trazendo a tonalidade de um esquecimento, um acaso, um caso qualquer. Sua fumaça penetra em minha alma e queima meu brilho, queima minha esperança, queima minha felicidade ou minhas altas capacidades para algo realizar. A fumaça se espalha absurdamente sem deixar meios vazios, e gera uma insuficiência respiratória que grita e implora por libertar-se de tamanha combustão, meus olhos lacrimejam toda vez em que sinto esses gases me afetarem, me deixando tonta e cinza. Intoxicou. Minhas pálpebras se encontram em questão de segundos e morrem, temporariamente. Depois de alguns minutos, meu olfato então capta um leve cheiro. É. Isso. É um cheiro forte e que está me fazendo acordar e lembrar de algo. É álcool. Álcool? O que houve? Por que estou deitada? Olho ao meu redor e vejo pessoas; olhares e gestos, tudo está normal, nada me parece perdido, ou insignificante, mas ainda algo me sufoca, me prende, me segura. Não posso, preciso sair. Por favor! Preciso voar enquanto o céu me convida. Meu inconsciente diz:
- Voar? Você não tem asas.
- Tenho, mas estas são secretas.
- Secretas? Não há nada de secreto e não há asas.
- Você não entende.
- Entendo.
- Não. Eu preciso escrever enquanto o lápis e o papel ainda são a principal fonte de um escritor. Eu preciso ler milhões de contos, prosas ou poesias, e algumas estórias enquanto há pessoas que as escrevam, preciso de conhecer estes mestres cheios de magia. Eu preciso conhecer pessoas, enquanto elas ainda me mostram o caminho trilhado e o que eu não devo trilhar, preciso ouvi-lás. Eu preciso ser livre. Eu preciso. Não há nada em mim que não queira nada além de viver livremente as cores e o amor.
- Mas eu te amo, isso basta.
- Não.
- Como?
- Eu não pertenço a ti. Tu me criastes, e Ele me deu livre arbítrio.
- Então...
- Então?
- Então vá! Vá enquanto eu acredito neste livre arbítrio, pois até eu descordar, irei procura-lá e então você voltará e estará sobre meus cuidados.
- Não há necessidade. Fomos feitos para voar, sem nos limitarmos, sem data, apenas aquele fim. O verdadeiro fim.
- Mas e, enquanto você? Quem cuidará de você? Como irá se virar? Aprender a viver?
- Isso a vida tratará de cuidar. Minhas escolhas irão determinar o meu futuro, e o meu futuro eu terei de tratar. Não voltarei caso esteja mal- não por interesse ou necessidade, mas voltarei caso esteja muito bem, e voltarei agradecida.
- É?
- Grata por me deixar voar.
- Então voe, mas voe pelo caminho mais longo e triste. Conheça a dor e a cor. E saberá avaliar o teu Eu.
- Voarei conforme o clima indicar...
- Voe. Se cuide! E não se esqueça de mim.
- Jamais. Voltarei para este cinza e absorverei mais um pouco de combustão ao teu lado, só para não perder o costume. Mas agora tenho que me apresar, irei de Bike Beach. Até breve!

- Até!

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